O Porto das Antas é uma reserva ecológica de 169 hectares situada no sudoeste de Goiás, no município de Serranópolis. A área foi adquirida há pouco mais de um ano a partir de um consórcio de 14 amigos que fundaram a Sociedade Porto das Antas, uma entidade sem fins lucrativos, que tem como meta transformar a reserva em importante referência para pesquisadores, resgatar o uso não predatório por parte das populações da região e promover a parceria com pessoas e instituições interessadas na preservação e no incremento de uma nova política ambiental para o cerrado goiano.
ENTRE EM CONTATOPorto das Antas é uma propriedade de 35 alqueires (169 hectares) localizada na região de cerrado do Sudoeste de Goiás, na margem esquerda do Rio Verdinho (Rio Verde), no município de Serranópolis. Distante 24 quilômetros da sede do município (dos quais 14 km são de estrada de terra), a área compõe-se de vários pequenos ecossistemas, predominando na maior parte de mangues formados por lagoas que se intercomunicam entre si e com o Rio Verdinho, constituindo um pequeno pantanal. Dentro da fazenda encontram-se cinco lagoas, nem todas acessíveis por terra. O Rio Verdinho é o limite natural da propriedade a sul/leste e, devido às inúmeras curvas características desse rio na região, chega a medir em torno de nove quilômetros entre o início e o final da propriedade.
A principal lagoa (Lagoa do Córrego do Porto), em razão da sua extensão e do mais fácil acesso, formada pelo córrego do Porto, é bastante conhecida na região e até em lugares distantes, devido ao fato de, por décadas, ter sido usada pelos habitantes das proximidades como lugar de acampamento para pescaria e caça. O nome do córrego do Porto faz referência a um antigo "porto", como era conhecida uma instalação elementar em certos pontos destinada a facilitar a travessia de pessoas e mercadorias entre as duas margens do Rio Verdinho. Não há sinais desse antigo porto ou dos barrancos onde estavam instalados. Uma das características, comum nesse tipo de rio muito tortuoso, é a mudança do seu leito.
Além dessa área, quase permanentemente alagada, encontra-se na fazenda outro ecossistema de formação florestal característica de beiras de cursos d'água, que é alcançada por trilha com razoável condição de acessibilidade. Essa pequena floresta está às margens da Lagoa da Muda - como é conhecida na região - ou também Lagoa do Jatobá, como vem sendo chamada, em função da quantidade de exemplares dessa árvore. Outras espécies arbóreas encontradas em abundância na área são: angico, sucupira, vinhático, copaíba, muçambé. Na área de cerrado strictu sensu abundam espécies como mangaba, croada, murici, maminha-cadela, gabiroba, marmelo, pitanga do campo e araticum (todas conhecidas na região pelo seu uso alimentício).
Até pouco tempo era comum encontrarem-se habitantes das redondezas e de Serranópolis fazendo a coleta desses frutos, especialmente mangaba, da qual fazem um doce muito apreciado. Outro ecossistema encontrado na área é o conhecido varjão, que é considerado pela legislação ambiental como área de preservação obrigatória. A área não apresenta apenas uma rica diversidade de flora, característica do cerrado, mas também uma rica diversidade de fauna. Na lista que apresentamos a seguir são citados apenas animais que já foram vistos ou identificados por pegadas. Entre os mamíferos, anta, capivara, cotia, cervo, cateto, queixada, macaco-prego, lobo; entre as aves, mutum, inhuma, jacu, biguá, pato, martim-pescador; entre os répteis, sucuri, cágados, teiú; entre os peixes, traíra, piau, piapara, dourado.
Antes da compra da propriedade, essa área era conhecida pela presença constante de caçadores e pescadores. Somente o fechamento da área para fins de preservação tem diminuído essa ação predatória, embora o curso do Rio Verdinho seja ainda uma entrada para eles, que vêm de lugares tão distantes como Minas Gerais. No entanto, a partir do momento em que a área foi paulatinamente fechada, ver os animais se tornou muito mais fácil. Não é preciso adentrar as áreas mais isoladas das margens do rio para encontrar sinais de sua presença. O local onde diversos tipos de pegadas são visíveis todos os dias (especialmente de anta) é a própria estradinha que leva à lagoa do córrego do Porto, lugar de passagem obrigatória para o cerrado e os varjões. Já deparamos com um exemplar de anta adulto, pastando tranquilamente ao lado da estrada às 10 horas da manhã, o que é de ocorrência rara como atestam os especialistas. Certamente isso só é possível graças à ação conservacionista que se iniciou há pouco mais de um ano.
Apesar da diversidade dos ecossistemas e da quantidade de água que transformam o Porto das Antas em local de grande apelo ambiental e paisagístico, nossa área está localizada na região do sudoeste goiano que vem sofrendo, há pelo menos 40 anos, ação sistemática de depredação ambiental pelo impacto do agronegócio. Primeiro, e mais próximo da reserva, através da criação de amplas pastagens para criação extensiva de gado, ou seja, através da derrubada da vegetação nativa para plantio da braquiária. Em área um pouco mais distante, assiste-se ainda o avanço das monoculturas de cana-de-açúcar e de soja.
Alguns dos problemas decorrentes dessa situação são o assoreamento das nascentes e cursos d'água (especialmente do córrego do Porto), a transformação criminosa dos varjões em pastagens, a retirada clandestina de madeira para construção de currais e galpões e a, ainda não totalmente contida, ação dos caçadores que, nos fins-de-semana, se embrenham com cães nas redondezas e que têm resultados tão danosos quanto as ações dos empresários da agroindústria.
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